Sobre a autora
Ana Claudia Lopes
Coordenadora Acadêmica do Curso de Design do SENAI CETIQT
A indústria 4.0 pode ainda parecer futuro para alguns, mas para o SENAI ela já é uma realidade há uma década.
No SENAI CETIQT, Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil que atende também a indústria de confecção, a tão aclamada “indústria 4.0” começou a ser visualizada em um estudo prospectivo que deu origem, em 2016, ao livro “A Quarta Revolução Industrial do setor têxtil e de confecção: a Visão de Futuro para 2030”, publicado em parceria com a Abit. O livro trazia ideias inovadoras para os setores Têxtil e de Confecção, mas hoje já vemos como realidade muitas tendências que foram indicadas para 2030.
Planta de Confecção 4.0
Como forma de visualização das tecnologias abordadas no livro, surgiu a ideia da construção de uma planta piloto de confecção 4.0. Na época, a Abit fazia os preparativos para trazer ao Rio de Janeiro a 33º IAF General Assembly – International Apparel Federation, maior e mais respeitado congresso de moda do mundo que seria realizado pela primeira vez no Brasil. E então foi dado o desafio: a planta, que então era somente um sonho, poderia estar pronta a tempo do evento? Assim foi feito.
A Planta de Confecção 4.0, a primeira das Américas, foi inaugurada em outubro de 2017 junto ao 33º IAF, com a participação de representantes da indústria de diversos países. O projeto foi desenvolvido 100% pelo SENAI CETIQT em parceria com o SENAI Rio de Janeiro (SENAI Benfica) e o SENAI Bahia (SENAI CIMATEC). Nela, os diversos componentes tecnológicos servem de inspiração para as indústrias nacionais na busca pela inovação e competitividade. Exemplos disso são a personalização em massa; a realidade virtual; realidade aumentada; sensoriamento; robotização; integração cliente, processo e cadeia de fornecimento e o processo de estoque zero. Todo o processo produtivo é realizado em 24 minutos, do momento em que o cliente co-cria o produto, até a entrega na embalagem por um braço robótico.
Nessa mesma época, o SENAI São Paulo, através da Escola SENAI “Francisco Matarazzo”, também iniciava um projeto de confecção 4.0 que foi lançado no ano seguinte, em 2018. Enquanto na planta do SENAI CETIQT é produzida uma calça do segmento Athleisure, no SENAI São Paulo é feita uma T-Shirt. Ambos produtos são estampados com padronagens escolhidas pelo cliente através de um espelho virtual. No Rio de Janeiro, o cliente se vê vestido com a calça que está customizando e é possível fazer inúmeras combinações de padronagens e cores. Em São Paulo, o cliente é transformado em um avatar, e escolhe uma das 15 estampas previamente cadastradas de acordo com a tendência do momento.
No SENAI CETIQT, o espelho virtual usa como base um banco de dados com milhares de medidas da população brasileira, coletados durante os anos do projeto antropométrico Size BR, que escaneou o corpo dos brasileiros. Além disso, quando a escolha da peça é concluída, há um processo de tomada de decisão autônoma por meio de um braço robótico, que toca na perna do cliente para avaliar o tônus muscular e fazer o ajuste automático do tamanho da calça baseado na leitura da rigidez.
Nas duas plantas, o cliente recebe as informações do pedido por e-mail, junto a um QR Code. A partir daí os processos são integrados e automatizados: o tecido é estampado, depois cortado, sem a intervenção humana. O maquinário se comunica por sensores e atuadores de forma que uma máquina “entende” quando a função da anterior terminou e a dela deve começar.
Em São Paulo, foi automatizado o processo da costura. Depois que o produto é cortado, um braço com pequenas garras “belisca” o tecido apenas o suficiente para conseguir levantá-lo, unir as duas partes da T-Shirt pelo avesso e movê-la para uma “smart table”, que faz a sustentação do tecido, deixando de fora somente a sobra das laterais para a costura. Esta mesa é conduzida por um robô até a máquina de overloque. Após a costura, um segundo robô retira a T-Shirt da “smart table”, desvira e a coloca em uma embalagem. Em ambas as plantas o produto é entregue ao cliente, também por um robô, a partir da apresentação do QR Code que foi enviado por e-mail.
Rede de Especialistas em Indústria Avançada: Confecção 4.0
Mas a experiência 4.0 não acabou por aí. Empenhado em apoiar as indústrias no processo de modernização rumo à nova Revolução Industrial, e para dar capilaridade aos conhecimentos adquiridos com a montagem da Planta, o SENAI CETIQT lançou em 2018 o curso Master in Business Innovation (MBI) em Indústria Avançada: Confecção 4.0.
O curso, voltado totalmente para o setor têxtil e confecção, tem como objetivos: transferir a Metodologia Senai de implementação de indústria 4.0 para a indústria; ser disruptivo a fim de mudar o mindset das empresas para torná-las mais aderentes aos novos processos produtivos relacionados à indústria 4.0; promover o networking entre profissionais e empresas a fim de promover processos mais colaborativos; criar projetos reais para impulsionar a implementação da indústria 4.0 em prol da competitividade do país.
Para isso, os alunos têm aula com professores nacionais e internacionais, experts renomados em temas como Indústria 4.0, IoT, Big Data, Materiais Avançados, Integração de Sistemas, entre outros. A metodologia proposta pelo SENAI foca na formação de competências através da construção de projetos, aplicação prática, problematização e colaboração. Durante o curso, os alunos trabalham em grupo em um projeto 4.0 viável conceitualmente e financeiramente de ser implementado.
A 1ª turma do MBI teve como alunos, diretores e executivos de 32 empresas brasileiras que pensaram soluções efetivas para a implantação das tecnologias e conceitos 4.0 em seus produtos e negócios. Foram apresentados 8 projetos a uma banca formada por CEO de empresas e órgãos de financiamento, com o intuito de contribuir para a viabilidade e implementação do projeto.
A Abit representada, no grand finale do curso, pelo presidente Fernando Pimentel, que fez parte da banca de avaliação dos trabalhos, instituiu aquele como o “marco oficial da indústria 4.0 no Brasil para o setor têxtil e de confecção”, por ter reunido empresas diversas que pensaram em conjunto em ações e projetos que farão a diferença no desenvolvimento e competitividade do setor.
Até hoje foram entregues 69 diplomas do curso, para profissionais de mais de 40 empresas, que formam uma Rede de Especialistas em Indústria Avançada que continua em contato compartilhando conhecimento e experiências e se reunindo periodicamente. O primeiro encontro foi no 1º Simpósio de Indústria 4.0 do Setor Têxtil e Confecção, realizado em Fortaleza em 2019 e, em seguida, em encontros promovidos online pelo SENAI CETIQT.
Sendo assim, o MBI em Indústria Avançada: Confecção 4.0 é mais do que uma Pós-graduação, é também um movimento brasileiro organizado para reunir os representantes das grandes empresas do Setor Têxtil e de Confecção para discutirem, de forma colaborativa, estratégias para tornar a indústria brasileira ainda mais competitiva no Brasil e no mundo.
O futuro é hoje. O impulsionamento da Indústria 4.0 no Brasil não é somente um direcionador estratégico no SENAI CETIQT ou SENAI São Paulo, mas também do SENAI Nacional. O conhecimento está disponível para quem deseja se atualizar e temos orgulho em ser um participante ativo dessa experiência 4.0 que é hoje tão importante para o desenvolvimento da indústria.
Sobre a autora
Ana Claudia Lopes
Coordenadora Acadêmica do Curso de Design do SENAI CETIQT