14 mar., 2023
Desde que o economista Milton Friedman publicou no The New York Times um artigo no qual afirmava que a responsabilidade social do empresário era o lucro (Friedman, 1970), as percepções sobre os negócios evoluíram, incorporando boas práticas ambientais, sociais e de governança à gestão das empresas - Environmental, Social, and Corporate Governance (ESG). A avaliação das práticas empresariais tendo os princípios ESG como parâmetro, permite reconhecer forte atuação relativa ao pilar ambiental, devida à relevância da mudança climática e seus impactos para vida. Na dimensão social, sobressaem ações que envolvem a sociedade e o público interno das empresas, com crescimento importante do investimento social corporativo, como demonstra o Relatório BISC 2020 - Benchmarking do Investimento Social Corporativo, segundo o qual “as empresas investiram R$ 5 bilhões - um aumento maior que 95% em relação à 2019” (BISC, 2021). Em termos de governança, as ações alcançam todos os stakeholders, considerando processos de gestão de risco, atendimento aos interesses de acionistas, dos consumidores, da sociedade e dos colaboradores, o que faz com que as empresas tenham um alcance verdadeiramente público e social. Um exemplo foi a destinação de 47% dos R$ 5 bilhões do investimento social corporativo de 2020 exclusivamente para o combate à pandemia da Covid-19. Em relação ao público interno, cresceram as ações de inclusão dos grupos socialmente minorizados: mulheres, negros, público LGBTQIA+. As grandes companhias, sobretudo, definiram áreas e orçamentos específicos para a inclusão da diversidade e o tema, hoje, parece integrar a agenda da alta liderança. Para as empresas especificamente, condutas socialmente responsáveis, em atenção aos critérios ESG, trazem ganho de imagem e atraem investidores socialmente conscientes. As políticas, quando adotadas, agregam à finalidade econômica do negócio critérios legais, éticos e discricionários, conforme a expectativa da sociedade. O modelo, livremente extraído de Archie B. Carrol, informa que se espera que as empresas façam mais pela comunidade do que gerar lucros. Elas devem obedecer às leis e respeitar os padrões de segurança, se comportar eticamente, compreender as normas sociais e quando houver dúvidas, seus gestores devem agir com bom senso (Carrol, 1979). Segurança e Saúde agregando valor ao negócio No Brasil, a atenção à saúde do trabalhador ganha dimensão na passagem da década de 1970 para a de 1980. É no contexto da transição à democracia que o trabalho passa ser considerado mais objetivamente na relação saúde-doença e as doenças ocupacionais encaradas como epidêmicas (Mendes, 1988). Desde então, muita coisa mudou e é impossível não reconhecer os avanços em termos de legislação, fiscalização e, também, de cultura empresarial. Mas é possível fazer mais e com maior organicidade. A complexidade da sociedade atual, a automação dos serviços, o contexto da pandemia, acelerando o trabalho à distância e outras realidades para as relações de trabalho, traz para as empresas e equipes de segurança e saúde novos desafios em relação ao adoecimento. Estimasse que os gastos com planos de saúde consomem em média 11% da folha de pagamento das empresas e os impactos da acidentalidade e adoecimento (pelos agravos do FAP – Fator Acidentário de Prevenção) podem chegar a 6%. Com a pandemia, a preservação da saúde e a gestão dos riscos tomou outra proporção na avaliação dos executivos. No setor industrial, por exemplo, foi possível constatar a importância das equipes de Segurança e Saúde para a rapidez de resposta no estabelecimento dos protocolos que permitiram a continuidade do funcionamento das empresas, reduzindo os impactos nos ambientes de trabalho. Os cuidados com a segurança e saúde, trabalhadores, com sua saúde mental, inclusive (tema antes de difícil abordagem em grande parte das empresas) nesse período de mortes e incertezas geram reconhecimento e engajamento dos colaboradores e melhoram a reputação das empresas perante a sociedade, consumidores, acionistas e investidores. Ainda assim é possível ampliar a compreensão de segurança e da saúde como VALOR, entendendo a oportunidade de atuação estratégica das equipes técnicas, alinhando os programas de segurança, saúde e bem-estar à estratégia do negócio e aos princípios ESG e ainda assim, reduzir custos. Um caminho possível é a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da agenda 2030 da ONU como diretriz. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) integram a agenda 2030 da ONU - ação global que conecta organizações de diferentes setores para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem paz e prosperidade. A assinatura em 2015 do documento “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” por 193 países, define a agenda, constituída por: 1 declaração, 17 Objetivos, meios de implantação, acompanhamento e revisão. Os Objetivos são integrados, interligados e indivisíveis, possuem 169 metas e 232 indicadores, com ações para Governos, Sociedade Civil, Setor Produtivo e Pessoas. Os programas de segurança e saúde desenvolvidos pelas empresas estão mais diretamente vinculados aos ODS 3 - Saúde e Bem-estar e ODS 8 – Trabalho Decente, mas podem relacionar-se a outros objetivos (veja a imagem), gerando impactos positivos para os trabalhadores, suas famílias e toda a sociedade, inseridos numa agenda global, com metas comparáveis que permitem a avaliação dos avanços e a definição gradativa de compromissos. A Rede Brasil do Pacto Global possui mais de 1.400 signatários, dos quais 1.036 são empresas de todos os portes e setores e ainda muito há por realizar quando nos referimos à dimensão social dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ao “S” do ESG ou à responsabilidade social. Os princípios ESG têm importante impacto para o negócio e os ODS são um caminho consistente para sua efetiva integração às práticas empresariais, devendo estar incorporados à estratégia do negócio. Priorizar Segurança e Saúde é uma escolha inteligente se considerarmos que: 1. o ambiente de trabalho pode ser espaço privilegiado para promoção de saúde, prevenção de doenças e acidentes 2. as empresas já realizam investimentos em planos de saúde, segurança do trabalho e saúde ocupacional e podem potencializar seus resultados ao tratar o tema estrategicamente e não de forma pontual 3. Os custos do adoecimento são conhecidos e aumentam consideravelmente - podemos reduzi-los com atuação sistêmica e integrada Entender segurança e saúde como ativos da organização, alinhar as ações à estratégia do negócio, aos princípios ESG e aos ODS, definir indicadores e reportar as ações traz benefícios para os negócios, para as pessoas e para a sociedade. Num mercado competitivo, em que os produtos e serviços se assemelham, a escolha do consumidor recairá sobre empresas socialmente responsáveis. A promoção de ambientes trabalho seguros e de saudáveis é mais que diferencial competitivo: é essencial à sustentação dos negócios.