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Governança corporativa é frequentemente interpretada como um tema restrito às empresas de capital aberto. Contudo, a popularização do E.S.G (acrônimo para Environmental (ambiental), Social e Governance (governança)) vem alterando esta percepção junto a um grupo cada vez maior. Este artigo é dirigido aos acionistas e líderes de PMEs que buscam refletir sobre como o sistema de governança pode contribuir com a forma que dirigem, monitoram e incentivam suas empresas e, assim, promover um novo rumo no curto, médio e longo prazos, para: ● Otimizar o valor econômico; ● Facilitar o acesso a recursos; ● Aprimorar a qualidade da gestão; ● Promover a sustentabilidade do negócio; ● Potencializar o impacto positivo junto à sociedade. Para que tais benefícios se concretizem, o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (5ª Edição do IBGC, págs .20 e 21) destaca quatro princípios básicos a serem praticados, resumidos a seguir: 1. Transparência das informações relevantes junto aos distintos grupos que contribuem com o resultado do negócio ou que por este são impactados (stakeholders): clientes, acionistas, funcionários, fornecedores, sociedade, defensores do meio ambiente e Estado; 2. Equidade ao tratar cada stakeholder com justiça e isonômia levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas; 3. Prestação de contas por parte dos agentes da governança. Deve ser realizada de forma clara, concisa, compreensível e temporânea, sempre assumindo integralmente a responsabilidade pelos seus atos e omissões; 4. Responsabilidade Corporativa dos integrantes de conselhos, comitês e da gestão. Engloba zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as externalidades negativas e aumentar as positivas resultantes das atividades da empresa, considerando no seu modelo de negócio as seis categorias de capitais: financeiro, humano, manufaturado, natural, intelectual e social. CATEGORIAS DE CAPITAIS As seis categorias de capitais são descritas no INTEGRATED REPORTING in the Public Sector (publicado pelo CIMA - Chartered Institute of Management Accounts, p.6) que embasa as definições transcritas abaixo: 1) FINANCEIRO é o total dos recursos financeiros que está disponível para o negócio, sendo proveniente da própria operação, de investimento dos sócios e/ou financiamentos/linhas de crédito; 2) HUMANO são as competências (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais) e atitudes (motivação e valores) que cada pessoa tem para inovar, incluindo: ✔ Aderência aos princípios da cultura da empresa, à abordagem de riscos e às regras de governança, com honestidade; ✔ Habilidade para compreender, desenvolver e implementar as estratégias da organização; ✔ Lealdade e motivação para aprimorar e inovar processos, bens e serviços, incluindo a capacidade de relacionamento interpessoal para colaborar, liderar e gerenciar. 3) MANUFATURADO são os bens tangíveis que sofreram alguma industrialização. Por exemplo: insumos, equipamentos e instalações; sejam eles produzidos por terceiros ou fruto de produção interna da organização que os reteve para uso próprio. Também fazem parte os capitais das infraestruturas externas, tais como: vias, pontes, portos, serviço de água e esgoto, energia elétrica e comunicações. Importante destacar que não fazem parte do capital manufaturado os recursos que estão no estado provido pela natureza. 4) NATURAL é composto por recursos naturais (renováveis ou não) captados pela empresa para serem consumidos e/ou empregados no processo de produção de bens e/ou prestação de serviços, como por exemplo: água, luz solar, minerais, terras produtivas, florestas, animais, biodiversidade, ar limpo e outros recursos ambientais. 5) INTELECTUAL são os conhecimentos que geram valor. Inclui: ● propriedade intelectual (patentes, direitos autorais, software, licenças e outros direitos regulamentados); ● capital organizacional (conhecimento tácito, sistemas, procedimentos e protocolos); ● as marcas e a reputação da empresa junto aos clientes e demais stakeholders. 6) SOCIAL resulta das redes de relacionamento construídas a partir da interação das pessoas que compõem a empresa, entre si e com os stakeholders externos para melhorar o bem-estar individual e coletivo. Este capital inclui: ● normas, princípios e comportamentos comuns; ● relacionamentos com os stakeholders e a confiança e disposição de engajamento que a organização desenvolve e se esforça para construir e proteger junto a: clientes, fornecedores, parceiros de negócios e outras partes interessadas externas; ● a licença social para a organização operar. Quando negligenciada, pode determinar o fechamento de unidades da empresa, boicote dos consumidores à marcas e até mesmo à categorias de produtos. Um exemplo que ganhou destaque na mídia é a polêmica quanto ao trabalho escravo nos campos de algodão em Xinjiang, na China. Enquanto marcas ocidentais que atuam globalmente excluíam da sua cadeia de suprimento o algodão dessa região da China para atender a demanda humanitária dos consumidores da UE e EUA, formadores de opinião e consumidores chineses boicotavam essas marcas. Ambos os lados com apoio de governos. CONSTRUINDO UNICIDADE Se o exposto até aqui parece útil para responder as demandas que você e seu time enfrentam, então a governança contribuirá com os novos rumos do seu negócio. Esta nova etapa demandará uma gestão mais participativa, ampliando os espaços e canais para pessoas de diferentes grupos contribuirem com o desenvolvimento do negócio. Portanto, antes de montar um conselho de administração ou consultivo e/ou comitês, com a participação de funcionários e até mesmo stakeholders externos, é relevante revisar, formalizar e comunicar o propósito, os princípios, e o pensamento estratégico – elementos-chave na construção da unicidade direcional do desenvolvimento do negócio. Propósito é a motivação para a pessoa empreender e/ou participar da construção de um negócio que serve a necessidade específica de um público, provendo produtos e/ou serviços que têm seu valor reconhecido pelos stakeholders. A comunicação do propósito deve ser clara, concisa e ter unicidade junto a todos os públicos. Princípios são as regras a serem respeitadas por todos, sem exceção, promovendo a previsibilidade e a reputação junto aos stakeholders internos ou externos. Por último, compartilho que “Uma boa estratégia é aquela que reconhece a natureza do desafio e oferece um meio de superá-lo”. Portanto, “O núcleo de trabalho de uma boa estratégia é descobrir os fatores críticos em uma situação e conceber um meio de coordenar e focar as ações para lidar com esses fatores. A responsabilidade mais importante de um líder é identificar os maiores desafios para o avanço e desenvolver uma abordagem coerente para superá-los” (RUMELT, 2011, pág. 2 e 3). ANTES DE INICIAR Identifique a atual aderência da gestão aos princípios da governança. Quais já estão em uso, o grau de formalidade, de participação de executivos e outros stakeholders e os impactos positivos. Quais faltam e já prejudicam o negócio e quais ainda não afetam o resultado. Uma vez reconhecidos, será mais fácil potencializar os pontos fortes, gerir as fraquezas, priorizar as oportunidades e minimizar os possíveis efeitos das ameaças. O objetivo é obter sucesso com um plano adequado à realidade da empresa. Espero que este artigo contribua com a sua missão de tecer novos rumos e desejo que a prosperidade seja cada vez mais a marca da sua liderança!

A indústria de confecções é um dos últimos elos da cadeia têxtil e constituída na essência por Micro e Pequenas Indústrias (MPI’s), sendo a maior empregadora de mão de obra da cadeia e uma das maiores do país. Mesmo diante dos recursos e potencialidades das grandes corporações e da concorrência em um mundo globalizado, as MPI’s buscam alternativas para garantir o sucesso dos negócios e ganhar destaque no cenário nacional. Entre elas está a Polo Salvador, pequena indústria fabricante de camisas polo para fardamento corporativo que criei junto com minha esposa e sócia Imelda Hartmann em Salvador, na Bahia. A Polo ressurgiu simbolicamente em 2010 porque o negócio que tínhamos anteriormente não prosperou devido à diversificação dos produtos e o número de itens do vestuário. Demos um passo para trás para dar dois para frente. Foi importante planejar um novo negócio, bem focado em inovação e ambiente sustentável, desde às instalações até os produtos. Com as estratégias bem definidas e o engajamento da força de trabalho, fomos crescendo a ponto de elevarmos a produtividade em 20% acima da média nacional, reduzindo os custos no processo produtivo e no produto final. Começamos a desenhar e produzir nosso próprio tecido, baseado nas necessidades do mercado de fardamento e considerando o apelo sustentável, que foi e é a tendência do mercado. Uma parcela do nosso fio é ecológico, feito a partir de garrafas pet, viscose de celulose, destacando também o fio biodegradável de poliamida, todos usados no desenvolvimento do tecido para produção das camisas polo. Nas instalações da fábrica houve uma verdadeira revolução. Instalamos um sistema de captação de água da chuva e otimizamos descargas e torneiras, reaproveitamos a água dos condicionadores de ar e descartamos os resíduos de forma adequada – os secos são destinados para a reciclagem e os orgânicos, como cascas e restos de alimentos, são enviados para compostagem, sendo parte utilizado no jardim suspenso de 24 m2 que construímos na entrada da fábrica e carinhosamente chamamos de “painel verde” -. E tem mais: os retalhos de tecido que podem chegar a cerca de 1 tonelada/mês, são encaminhados para uma creche que transforma o material em estopa, fuxicos e a renda adquirida com as vendas é utilizada na manutenção da instituição. O ano de 2014 foi um divisor de águas para o nosso negócio. Iniciamos o investimento em eficiência energética plena com a instalação de placas solares, substituímos todas as lâmpadas comuns por LED, reduzindo consideravelmente o consumo de energia e de lixo eletrônico, instalamos sensores de presença e lâmpadas de alerta em equipamentos de alto consumo de energia, substituímos ventiladores de parede por 2 ventiladores exaustores de 3 e 6,5m de diâmetro de baixo consumo e manutenção, instalamos ar condicionados inverter, substituímos todos os motores elétricos das máquinas e equipamentos por motores eletrônicos, entre outras ações. Assim, 3 anos depois, atingimos autossuficiência na geração da nossa própria energia com mais de 100 placas solares instaladas e, diante desse avanço, percebemos que a empresa poderia ser habilitada como empreendimento sustentável com a certificação ZERO ENERGY, referência nacional em construção sustentável e concedida pela GBC- Green Building Council. O resultado veio em 2019, quando fomos consagrados como a primeira indústria do Norte/Nordeste e a segunda do país a receber essa certificação. Além do reconhecimento da GBC, diante das mais de 40 ações sustentáveis que aplicamos, recebemos diversas premiações e certificações, como o 11º e 12º prêmios socioambientais concedidos pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB); o Selo Verde - nas categorias Ouro e Diamante -, chancelado pela Organização Social de Interesse Público (OSCIP) Ecolmeia, de São Paulo; o IPTU Verde, concedido pela Prefeitura de Salvador para as empresas utilizam os recursos naturais de maneira sustentável em seus imóveis; a medalha de mérito da ABIT, como destaque nacional em sustentabilidade e inovação, além do Rótulo Ecológico homologado pela Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Todas essas premiações geraram um volume enorme de mídia espontânea, que é um dos pontos fortes para atingir mercado divulgando nosso negócio, porque para uma pequena indústria custear uma publicidade importante é algo muito desafiador. Fomos objeto de notícia na abertura do Jornal Nacional, da Rede Globo, em 2018, como uma indústria que estaria gerando sua própria energia, o que nos motivou de forma especial para buscar mais iniciativas inéditas, como a produção da primeira camisa polo CARBONO ZERO do BRASIL, também a partir da autossuficiência energética, garantindo à Polo o 12º Prêmio Socioambiental da FIEB e a homologação pela ABNT, necessária para garantir a credibilidade no mercado e, para isso, foi preciso calcular a pegada de carbono ao montante de todo processo, ou seja, desde o transporte do fio até a tecelagem, tinturaria, transporte do tecido acabado até Salvador, assim como nas instalações da Polo Salvador, até entrega do produto final ao cliente. Diante de tudo isso é importante destacar que embora essas iniciativas sejam numerosas, cabem em qualquer negócio, desde que haja iniciativa e crença na própria capacidade. O pequeno negócio precisa perceber suas forças, que se transformam em diferencial em relação às maiores corporações. A velocidade nas decisões, a agilidade nas ações, devido à proximidade e tamanho, o aproveitamento das sugestões dos colaboradores e sua implementação, além da importância enorme na visibilidade dos pequenos negócios, são incentivos que fazem a diferença na busca de selos, certificações e premiações. Aqui nós seguimos como pequena empresa, que pretende continuar sendo considerada e percebida pela comunidade em geral como um pequeno negócio saudável economicamente, que cuida do meio ambiente de forma diferenciada, motivando e valorizando as pessoas, dando condições dignas de trabalho e oportunidades em usufruir dos resultados e que possa servir de inspiração para outros negócios, não importa seu tamanho.

No final de 2019, a Comissão Europeia apresentou o European Green Deal (EU Green Deal) como plataforma estratégica para fomentar a transição da economia europeia pautada pelo desenvolvimento sustentável, crescimento econômico e descarbonização. Aprimorar as políticas para promover a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), estimular a transição energética, incrementar a produção sustentável, controlar emissões de GEEs em produtos importados de terceiros países, incrementar o alcance dos direitos humanos e aprimorar a responsabilidade corporativa são apenas alguns anseios previstos pelo EU Green Deal. Desde então, a União Europeia (UE) está imbuída na criação ou aprimoramento de várias normativas que, além de criar obrigações para o setor produtivo europeu, poderá exigir o cumprimento de diversos requisitos pelos importadores e, consequentemente, pelos produtores em terceiros países. Destacam-se aqui duas regulamentações em curso, de particular interesse para a cadeia têxtil e de vestuário, referentes ao Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (‘CBAM’, Carbon Border Adjustment Mechanism em inglês) e à Devida Diligência de Sustentabilidade Corporativa. Em maio de 2023, o CBAM foi aprovado por meio do Regulamento 2023/956. O objetivo central do mecanismo de ajuste de carbono na fronteira é exigir que produtos importados sejam sujeitos às medidas de redução de emissões, evitando-se o que a EU denomina de vazamento de carbono. Na prática, a medida exigirá que os importadores obtenham informações sobre emissões e ações climáticas em produtos importados dos setores de ferro, aço, alumínio, cimento, fertilizantes e energia em uma primeira fase. Apesar de o setor têxtil não ser diretamente afetado na primeira fase do CBAM, fases posteriores poderão trazer o risco de inclusão do setor. Como a UE tem meta de reduzir pelo menos 55% das emissões de GEEs até 2030, comparadas aos níveis de 1990, e a meta de neutralidade de emissões até 2050, e possui um mercado de carbono cap and trade (European Emissions Trading System – EU-ETS) com metas compulsórias para vários setores, pretende exigir medidas semelhantes para setores similares nos países que exportam. Espera-se que a cobrança de uma taxa de carbono na fronteira compense esse desnível internacional para os setores mais intensivos em emissões e que sua aplicação efetiva se inicie a partir de 2026. Um dos desafios do CBAM é definir quais dados a UE aceitará, visando atestar que certos produtos estão sujeitos a metas de redução de emissões, ou os importadores terão que adquirir certificados CBAM. Isso gerará diversas obrigações para os importadores quanto a obtenção de informações e dados que permitam assegurar que produtos importados são efetivamente sujeitos às medidas de redução de emissões. Ainda é incerto antever como a UE irá gerir o funcionamento do mecanismo, o que sugere que a fase provisória será de extrema importância. Ademais, há uma ampla discussão sobre a compatibilidade do CBAM diante das regras da Organização Mundial do Comércio, uma vez que pode gerar restrições e até barreiras ao comércio com a finalidade de reduzir emissões de GEE. Vale, no entanto, apontar que no recente painel entre Malásia e EU, o painel entendeu que a regra europeia que acabou restringindo óleo de palma em função dos riscos de emissões associadas a efeitos indiretos do uso da terra, caracterizam um objetivo legítimo de proteção ambiental, nos termos do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio. A aplicação da medida, na prática, pode gerar restrições. Como os importadores poderão comprovar que os produtos que importam seguem metas compulsórias de redução de emissões, são abrangidos pelas metas nacionais no Acordo de Paris ou seguem padrões produtivos que alcançam objetivos climáticos é uma incógnita. A iminente aprovação do mercado de carbono regulado, denominado de Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, pretende criar metas compulsórias para setores com emissões acima de 25 mil toneladas de CO2eq por ano. O projeto foi aprovado no Senado e no Congresso e depende da aprovação final, o que deve ocorrer ao longo de 2024. Neste sentido, vale considerar que com um cap and trade que estabeleça metas para vários setores, a indústria estaria embasada para evitar restrições e custos de mecanismos como o CBAM. Naturalmente, essa isenção de pagar ajustes de fronteira dependerá, caso a caso, da forma e exigências que cada mecanismo irá gerar e como deverão operar. De toda forma, é essencial considerar que medidas internas que estabeleçam metas de redução de emissões, mesmo que voluntárias, se tornam um diferencial para vários setores. No âmbito da Iniciativa Science Based Targets, 5.027 empresas definiram metas climáticas e 3.055 empresas que definiram metas de neutralidade climática, dentre as quais, 495 do setor de têxteis, vestuário e calçados. Com relação à segunda regulamentação de destaque, acaba de ser aprovada pelo Conselho Europeu a Diretiva da Comissão Europeia sobre a Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa (CSDDD), que tem como objetivo promover a sustentabilidade corporativa, estabelecendo a obrigatoriedade para as empresas de conduzirem a chamada 'devida diligência’ corporativa em direitos humanos e meio ambiente, voltada a minimizar a extensão de potenciais impactos ambientais e de direitos humanos decorrentes de suas atividades ou relações comerciais. O próximo passo é a votação da CSDDD no Parlamento Europeu. A Diretiva proposta impõe a obrigação de que as empresas europeias tomem medidas, para a identificar, prevenir, mitigar e comunicar como abordam os riscos e impactos adversos ao meio ambiente e aos direitos humanos, com relação não somente às suas operações, mas também à sua cadeia de fornecedores e relações comerciais. Para tanto, são levados em conta referenciamentos internacionais, como os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU e as Diretrizes da OCDE para Empresas e Multinacionais. As novas regras irão afetar empresas brasileiras com negócios junto aos 27 países do bloco. Consumidores e empresas de vários países pressionam a adoção dessa legislação. No texto atual, os Estados-membros deverão implementar medidas para assegurar que os diretores das empresas europeias considerem as consequências de suas decisões em matéria de sustentabilidade, sujeitos a responsabilidade civil. Nota-se que a conexão com a cadeia de suprimentos e relações comerciais fará com que os requisitos impostos impactem também os países fornecedores para Europa, incluindo o Brasil. Ademais, diferentemente da CBAM, no caso da Diretiva Proposta, o setor têxtil e vestuário é visto como um setor de ‘alto impacto’, e como tal, sujeito a essas obrigações também para empresas europeias de menor porte. Enquanto alguns países Europeus já adotam em suas legislações nacionais semelhantes ao que essa Diretiva demandará (como por exemplo Alemanha, Holanda e França) espera-se que a obrigatoriedade para todos os países-membros ocorra até o final de 2024. Independentemente a consolidação normativa, grandes grupos empresariais já se movimentam fortemente para fortalecer suas práticas socioambientais para não terem gargalos e impactos negativos no futuro próximo. Tanto a CBAM como a Diretiva de Sustentabilidade corporativa destacam a relevância da agenda climática, direitos humanos e socioambiental ampliada para as empresas brasileiras que se relacionam com empresas e mercado europeus, seja como forma para aprimorar a gestão e a produção usando energias renováveis e novas tecnologias, seja como diferencial competitivo e acesso ao mercado europeu. Nesse sentido, é fundamental que os setores e as empresas, busquem compreender os parâmetros e requisitos internacionais ESG e de Direitos Humanos e identifiquem os pontos de fortaleza e fraquezas que merecem ser aprimoradas como forma de fortalecer sua competitividade e acesso a clientes, mercados, financiamento e imagem. As iniciativas em curso, pela ABIT e pela ABRAFAS, utilizando o “Termômetro ESG”, é um ótimo ferramental para nortear ações empresariais e setoriais concretas

O Índice de Transparência da Moda é um projeto pioneiro no setor da moda que indica em que medida grandes marcas da indústria estão divulgando publicamente informações sobre suas políticas, compromissos, práticas e impactos socioambientais em toda a cadeia de valor em prol de uma maior prestação de contas. O projeto foi desenvolvido pelo Fashion Revolution , maior movimento ativista da moda, presente em cerca de 90 países e que trabalha por uma moda que conserve e regenere o meio ambiente e que valorize as pessoas acima do crescimento e do lucro. Os resultados do Índice auxiliam a direcionar nossos esforços contínuos como organização da sociedade civil em aumentar a consciência pública e a educação sobre os desafios sociais e ambientais enfrentados pela indústria da moda, usando esta pesquisa para apoiar o ativismo da sociedade. Queremos inspirar mais pessoas a pesquisarem sobre as marcas que consomem, incentivando uma mudança de comportamento que já vem sendo notada. O Índice tem o objetivo de ser uma ferramenta construtiva de promoção de melhoria para toda a indústria, trazendo luz às responsabilidades de todos ao longo da cadeia de fornecimento, demonstrando a necessidade de mais incentivos e políticas públicas para transparência e sustentabilidade na indústria da moda e auxiliando ONGs, sindicatos e grupos da sociedade civil que atuam diretamente com produtores e trabalhadores na proteção dos direitos humanos e do meio ambiente. Acreditamos que a transparência é fundamental para alcançar as mudanças para as quais o Fashion Revolution vem trabalhando todos esses anos – seja na política, na cultura ou na indústria.

É perceptível que desde a década de 1980 com o movimento econômico liberal, que a indústria têxtil brasileira vive um ambiente extremamente competitivo. Pressionada pelos preços baixos no mercado internacional, seguiu a tendência do fast fashion que potencializa este cenário. Nesse modelo, impactos negativos são gerados no contexto ambiental, econômico e social. As roupas produzidas são quase que descartáveis, tanto para os consumidores, quanto para os varejistas, que “precisam” acompanhar lançamentos da estação na busca por maior lucro. Dentre esses impactos, a precarização das condições de trabalho só cresce. Intermediários no setor, provocaram uma terceirização ou até mesmo “quarteirização” de serviços por pequenas facções de costura que estão na base desta cadeia e ocupam as relações comerciais mais frágeis. Este cenário que já é desafiador, foi agravado pela crise econômica, política, e com a pandemia da COVID-19. As altas taxas de desemprego tem feito com que mais pessoas se submetam ao trabalho informal – entre elas, imigrantes que chegam ao país em busca de melhores condições de vida. Devido ao grau de vulnerabilidade social e econômica que estes possuem, atrelada às condições de vida nos países de origem, muitos imigrantes se veem obrigados a aceitarem trabalhos precários, muitas vezes análogo ao escravo. Segundo o Ministério Público do Trabalho de SP, em 2017, das 168 queixas sobre possível trabalho escravo recebidas, 52 eram na área têxtil. Em 2019, o setor seguiu nesse ranking e representava 18% das 311 denúncias. Na cadeia têxtil a maioria destes trabalhadores imigrantes são bolivianos, mas também é comum encontrar peruanos e chilenos envolvidos nesta produção. Estima-se que só em São Paulo existam mais de 400 mil bolivianos, a maioria deles trabalhando como costureiros ou mesmo tendo sua própria facção. Ainda há estimativas, porém de difícil confirmação pelo grau de informalidade, que existam mais de 13 mil oficinas de costura espalhadas só na grande São Paulo.

Espera-se que os sistemas de logística reversa viabilizem a coleta, segregação, e retorno das embalagens e produtos após o uso e descarte pelo consumidor, gerando com isso movimentação na economia com geração de postos de trabalho e renda, aumentando dos níveis de reciclagem no Brasil, e diminuindo do impacto ambiental causado pela disposição inadequada de resíduos sólidos. Além disso, com a reciclagem, desde que técnica e economicamente viável, poderão ser reduzidos o uso de insumos e matéria prima virgem na inclusão das linhas produção de novos produtos. Para atender o tripé da sustentabilidade, os sistemas de logística reversa também geram um impacto social altamente positivo, através do incentivo ao desenvolvimento de associações e cooperativas de agentes de reciclagem que atuam nas etapas de coleta, triagem e comercialização dos materiais recicláveis, gerando emprego e renda para uma população extremamente carente. Assim, os “fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes” são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos e embalagens após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos (artigo 33 da Lei Federal nº 12.305/2010). Desta maneira, a logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico, ambiental e social composto por diferentes medidas destinadas a viabilizar a coleta, segregação e a restituição dos produtos e embalagens ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Os setores produtivos brasileiros já estão empenhados na busca de soluções para os grandes desafios da gestão e do gerenciamento de resíduos sólidos, como nos casos dos Sistemas de Logística Reversa, tais como: Embalagens vazias e das sobras de defensivos agrícolas Entidade Gestora: Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - IMPEV 49.881,1 toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas destinadas em 2020 93% das embalagens plásticas primárias comercializadas no Brasil têm destinação ambientalmente adequada 411 unidades de recebimento no país (302 postos e 109 centrais), dados 2020 3,9 mil ações de recebimento itinerantes em 2020 Emissões evitadas: 823.167 mil t CO2 Latas de Alumínio para Bebidas Entidade gestora: Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio - Abralatas Em 2020 o índice de reciclagem no Brasil foi de 97,4% De 402,2 mil toneladas de latas vendidas no mercado interno Foram recicladas 391,5 mil toneladas de latas, ou, aproximadamente 31 bilhões de unidades Baterias de Chumbo Ácido Entidade Gestora: Instituto Brasileiro de Energia Reciclável - IBER Recolhido 275.427 toneladas (15.301.517 unidades) de baterias de chumbo ácido, em 2020 Lâmpadas Fluorescentes, de Vapor de Sódio e Mercúrio e de Luz Mista Entidade Gestora: Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa de Produtos de Iluminação - RECICLUS - em 2020, 927 toneladas de lâmpadas (6.351.254 unidades) foram recolhidas - atingiu 2.124 pontos de coleta em 465 municípios (26 estados +DF). Pneus Inservíveis Entidade Gestora: Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis - Reciclanip - destinou cerca de 379.931 mil toneladas de pneus em 2020, totalizando 62.246.024 unidades deste inicio do sistema. - atingiu 1.160 pontos de coleta em todo o Brasil Pilhas e Baterias Entidade Gestora: Gestora para Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos Nacional – Green Eletron - alcançou a coleta de 1.755,79 toneladas de pilhas, até setembro de 2020 - atualmente, existem 4.453 pontos de coleta no Brasil Fonte: Sinir – Sistema de Informações de Gestão de Resíduos Sólidos A Logística Reversa de Embalagens em Geral Em 2010 foi promulgada a Lei Federal nº 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), importante marco da legislação ambiental brasileira, que introduziu como princípio a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, além de ter como objetivo o incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados. O maior desafio destes sistemas, sem sombra de dúvida, trata das embalagens em geral, considerando a dificuldade de se reunir todos os segmentos industriais, além de envolver todas as cadeias de fabricantes de materiais das embalagens, como por exemplo, metais, papel, vidro e plástico. As embalagens em geral foram incluídas na lista de materiais sujeitos à logística reversa devido ao grande volume gerado e, consequentemente, ocupado nos aterros sanitários ou lixões, ainda existentes no país. É muito desafiador promover o retorno de embalagens após o uso pelo consumidor dos mais variados materiais. A pulverização deste material em um país com dimensões continentais como o Brasil, além da escala necessária para que a indústria, comércio, importadores e distribuidores atinjam suas metas, são apenas alguns exemplos de obstáculos que devem ser ultrapassados. Diante da complexidade do tema, diferentes sistemas foram criados com o objetivo de viabilizar a restituição das embalagens em geral ao setor produtivo. Neste sentido, cabe ressaltar a importância de se ter modelos variados, possibilitando aos empresários alternativas para o cumprimento da lei. Um dessas alternativas é a modelagem de compensação ambiental através da aquisição de créditos de reciclagem pelas empresas que precisam comprovar a logística reversa, em modelo similar ao mercado de crédito de carbono. Trata-se de uma forma de se oferecer uma remuneração acessória aos operadores: cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais recicláveis, agentes de reciclagem, empresas de gerenciamento de resíduos, dentre outros. São esses atores que coletam, triam, beneficiam e comercializam os recicláveis, desviando estes materiais dos aterros sanitários, proporcionando assim uma destinação mais nobre do que a disposição final. Recentemente, foi publicado o Decreto Federal nº 11.044/2022 que institui o Certificado de Crédito de Reciclagem - Recicla+, definido como o documento emitido pela entidade gestora que comprova a restituição ao ciclo produtivo da massa equivalente dos produtos ou das embalagens sujeitos à logística reversa, que pode ser adquirido por fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes. Cabe ressaltar que todo o processo deve ser feito por meio de notas fiscais eletrônicas, que dão o lastro das operações de comercialização das embalagens comprovadamente retornadas para a reciclagem. Tudo isso utilizando tecnologia, transparência e rastreabilidade para diminuir o custo sistêmico. É de suma importância que empresas e operadores possuam um modelo confiável, cujo objetivo final é promover o aumento dos índices de reciclagem no país, infelizmente ainda muito tímidos. Os avanços promovidos já podem ser observados e a logística reversa vai ganhando números cada vez mais representativos, trazendo ganhos ambientais, sociais e econômicos que todos almejam. Sistema de Logística Reversa: Instituto Rever Entidade gestora de âmbito nacional, o Instituto Rever aplica o modelo de Certificado de Crédito de Reciclagem - Recicla+, com base no Decreto Federal nº 11.044/2022 para atendimento das regulamentações legais de logística reversa de âmbito nacional. O Instituto Rever, entidade sem fins lucrativos, é uma solução conjunta entre 53 entidades representativas dos setores produtivos, representando mais de 3 mil empresas aderentes. Este sistema já investiu em torno de R$ 21 milhões na cadeia da reciclagem de novembro de 2018 a março de 2022, correspondendo a certificação de mais de 290 mil toneladas de materiais recicláveis.

A indústria 4.0 pode ainda parecer futuro para alguns, mas para o SENAI ela já é uma realidade há uma década. No SENAI CETIQT , Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil que atende também a indústria de confecção, a tão aclamada “indústria 4.0” começou a ser visualizada em um estudo prospectivo que deu origem, em 2016, ao livro “A Quarta Revolução Industrial do setor têxtil e de confecção: a Visão de Futuro para 2030”, publicado em parceria com a Abit. O livro trazia ideias inovadoras para os setores Têxtil e de Confecção, mas hoje já vemos como realidade muitas tendências que foram indicadas para 2030. Planta de Confecção 4.0 Como forma de visualização das tecnologias abordadas no livro, surgiu a ideia da construção de uma planta piloto de confecção 4.0. Na época, a Abit fazia os preparativos para trazer ao Rio de Janeiro a 33º IAF General Assembly – International Apparel Federation, maior e mais respeitado congresso de moda do mundo que seria realizado pela primeira vez no Brasil. E então foi dado o desafio: a planta, que então era somente um sonho, poderia estar pronta a tempo do evento? Assim foi feito. A Planta de Confecção 4.0, a primeira das Américas, foi inaugurada em outubro de 2017 junto ao 33º IAF, com a participação de representantes da indústria de diversos países. O projeto foi desenvolvido 100% pelo SENAI CETIQT em parceria com o SENAI Rio de Janeiro (SENAI Benfica) e o SENAI Bahia (SENAI CIMATEC). Nela, os diversos componentes tecnológicos servem de inspiração para as indústrias nacionais na busca pela inovação e competitividade. Exemplos disso são a personalização em massa; a realidade virtual; realidade aumentada; sensoriamento; robotização; integração cliente, processo e cadeia de fornecimento e o processo de estoque zero. Todo o processo produtivo é realizado em 24 minutos, do momento em que o cliente co-cria o produto, até a entrega na embalagem por um braço robótico. Nessa mesma época, o SENAI São Paulo, através da Escola SENAI “Francisco Matarazzo”, também iniciava um projeto de confecção 4.0 que foi lançado no ano seguinte, em 2018. Enquanto na planta do SENAI CETIQT é produzida uma calça do segmento Athleisure, no SENAI São Paulo é feita uma T-Shirt. Ambos produtos são estampados com padronagens escolhidas pelo cliente através de um espelho virtual. No Rio de Janeiro, o cliente se vê vestido com a calça que está customizando e é possível fazer inúmeras combinações de padronagens e cores. Em São Paulo, o cliente é transformado em um avatar, e escolhe uma das 15 estampas previamente cadastradas de acordo com a tendência do momento. No SENAI CETIQT, o espelho virtual usa como base um banco de dados com milhares de medidas da população brasileira, coletados durante os anos do projeto antropométrico Size BR, que escaneou o corpo dos brasileiros. Além disso, quando a escolha da peça é concluída, há um processo de tomada de decisão autônoma por meio de um braço robótico, que toca na perna do cliente para avaliar o tônus muscular e fazer o ajuste automático do tamanho da calça baseado na leitura da rigidez. Nas duas plantas, o cliente recebe as informações do pedido por e-mail, junto a um QR Code. A partir daí os processos são integrados e automatizados: o tecido é estampado, depois cortado, sem a intervenção humana. O maquinário se comunica por sensores e atuadores de forma que uma máquina “entende” quando a função da anterior terminou e a dela deve começar.

O mercado têxtil é repleto de artigos falsificados e difíceis de detectar pelo consumidor. Empresas idôneas, que possuem processos corretos, sofrem além de prejuízos econômicos com a perda na participação do mercado e reputação da marca, tem também muitas vezes, sua propriedade intelectual roubada. Da mesma forma, a falta de rastreabilidade de produto e processo, contribuem no fomento a mão-de-obra informal, ambientes insalubres e condições extremamente precárias para produção. Prática conhecida como “verdadeiro custo”, não é realidade somente no Brasil, mas no mundo, principalmente em países com altas taxas de desempregos e baixo nível de escolaridade em sua população. O setor produtivo, que possuem uma cadeia de transformação formal e ética, precisam de ferramentas para diferenciar seus produtos das falsificações e de empresas que se utilizam de uma superexploração da força de trabalho. Diante deste grande desafio, criamos o primeiro mecanismo capaz de codificar um fio em sua secção transversal, tornando o artigo têxtil único e rastreável. Fazendo uma analogia, seria como imprimir um código de barras ou um QR Code no fio, que permanecerá sobre ele durante todo o processamento, até pós artigo pronto. Essa assinatura única transportará informações de origem da matéria-prima, como toda a informação de processo. Patente da invenção já requerida.

Governança corporativa é frequentemente interpretada como um tema restrito às empresas de capital aberto. Contudo, a popularização do E.S.G (acrônimo para E nvironmental (ambiental), S ocial e G overnance (governança)) vem alterando esta percepção junto a um grupo cada vez maior. Este artigo é dirigido aos acionistas e líderes de PMEs que buscam refletir sobre como o sistema de governança pode contribuir com a forma que dirigem, monitoram e incentivam suas empresas e, assim, promover um novo rumo no curto, médio e longo prazos, para: Otimizar o valor econômico; Facilitar o acesso a recursos; Aprimorar a qualidade da gestão; Promover a sustentabilidade do negócio; Potencializar o impacto positivo junto à sociedade. Para que tais benefícios se concretizem, o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (5ª Edição do IBGC, págs .20 e 21) destaca quatro princípios básicos a serem praticados, resumidos a seguir: 1. Transparência das informações relevantes junto aos distintos grupos que contribuem com o resultado do negócio ou que por este são impactados (stakeholders): clientes, acionistas, funcionários, fornecedores, sociedade, defensores do meio ambiente e Estado; 2. Equidade ao tratar cada stakeholder com justiça e isonômia levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas; 3. Prestação de contas por parte dos agentes da governança. Deve ser realizada de forma clara, concisa, compreensível e temporânea, sempre assumindo integralmente a responsabilidade pelos seus atos e omissões; 4. Responsabilidade Corporativa dos integrantes de conselhos, comitês e da gestão. Engloba zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as externalidades negativas e aumentar as positivas resultantes das atividades da empresa, considerando no seu modelo de negócio as seis categorias de capitais: financeiro, humano, manufaturado, natural, intelectual e social. Categorias de Capitais As seis categorias de capitais são descritas no INTEGRATED REPORTING in the Public Sector (publicado pelo CIMA - Chartered Institute of Management Accounts, p.6) que embasa as definições transcritas abaixo: 1. FINANCEIRO é o total dos recursos financeiros que está disponível para o negócio, sendo proveniente da própria operação, de investimento dos sócios e/ou financiamentos/linhas de crédito; 2. HUMANO são as competências (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais) e atitudes (motivação e valores) que cada pessoa tem para inovar, incluindo: Aderência aos princípios da cultura da empresa, à abordagem de riscos e às regras de governança, com honestidade; Habilidade para compreender, desenvolver e implementar as estratégias da organização; Lealdade e motivação para aprimorar e inovar processos, bens e serviços, incluindo a capacidade de relacionamento interpessoal para colaborar, liderar e gerenciar. 3. MANUFATURADO são os bens tangíveis que sofreram alguma industrialização. Por exemplo: insumos, equipamentos e instalações; sejam eles produzidos por terceiros ou fruto de produção interna da organização que os reteve para uso próprio. Também fazem parte os capitais das infraestruturas externas, tais como: vias, pontes, portos, serviço de água e esgoto, energia elétrica e comunicações. *Importante destacar que não fazem parte do capital manufaturado os recursos que estão no estado provido pela natureza. 4. NATURAL é composto por recursos naturais (renováveis ou não) captados pela empresa para serem consumidos e/ou empregados no processo de produção de bens e/ou prestação de serviços, como por exemplo: água, luz solar, minerais, terras produtivas, florestas, animais, biodiversidade, ar limpo e outros recursos ambientais. 5. INTELECTUAL são os conhecimentos que geram valor. Inclui: propriedade intelectual (patentes, direitos autorais, software, licenças e outros direitos regulamentados); capital organizacional (conhecimento tácito, sistemas, procedimentos e protocolos); as marcas e a reputação da empresa junto aos clientes e demais stakeholders. 6. SOCIAL resulta das redes de relacionamento construídas a partir da interação das pessoas que compõem a empresa, entre si e com os stakeholders externos para melhorar o bem-estar individual e coletivo. Este capital inclui: normas, princípios e comportamentos comuns; relacionamentos com os stakeholders e a confiança e disposição de engajamento que a organização desenvolve e se esforça para construir e proteger junto a: clientes, fornecedores, parceiros de negócios e outras partes interessadas externas; a licença social para a organização operar. Quando negligenciada, pode determinar o fechamento de unidades da empresa, boicote dos consumidores à marcas e até mesmo à categorias de produtos. Um exemplo que ganhou destaque na mídia é a polêmica quanto ao trabalho escravo nos campos de algodão em Xinjiang, na China. Enquanto marcas ocidentais que atuam globalmente excluíam da sua cadeia de suprimento o algodão dessa região da China para atender a demanda humanitária dos consumidores da UE e EUA, formadores de opinião e consumidores chineses boicotavam essas marcas. Ambos os lados com apoio de governos. Construindo Unicidade Se o exposto até aqui parece útil para responder as demandas que você e seu time enfrentam, então a governança contribuirá com os novos rumos do seu negócio. Esta nova etapa demandará uma gestão mais participativa, ampliando os espaços e canais para pessoas de diferentes grupos contribuirem com o desenvolvimento do negócio. Portanto, antes de montar um conselho de administração ou consultivo e/ou comitês, com a participação de funcionários e até mesmo stakeholders externos, é relevante revisar, formalizar e comunicar o propósito, os princípios, e o pensamento estratégico – elementos-chave na construção da unicidade direcional do desenvolvimento do negócio. Propósito é a motivação para a pessoa empreender e/ou participar da construção de um negócio que serve a necessidade específica de um público, provendo produtos e/ou serviços que têm seu valor reconhecido pelos stakeholders. A comunicação do propósito deve ser clara, concisa e ter unicidade junto a todos os públicos. Princípios são as regras a serem respeitadas por todos, sem exceção, promovendo a previsibilidade e a reputação junto aos stakeholders internos ou externos. Por último, compartilho que “Uma boa estratégia é aquela que reconhece a natureza do desafio e oferece um meio de superá-lo” . Portanto, “O núcleo de trabalho de uma boa estratégia é descobrir os fatores críticos em uma situação e conceber um meio de coordenar e focar as ações para lidar com esses fatores. A responsabilidade mais importante de um líder é identificar os maiores desafios para o avanço e desenvolver uma abordagem coerente para superá-los” (RUMELT, 2011, pág. 2 e 3). Antes de Iniciar Identifique a atual aderência da gestão aos princípios da governança. Quais já estão em uso, o grau de formalidade, de participação de executivos e outros stakeholders e os impactos positivos. Quais faltam e já prejudicam o negócio e quais ainda não afetam o resultado. Uma vez reconhecidos, será mais fácil potencializar os pontos fortes, gerir as fraquezas, priorizar as oportunidades e minimizar os possíveis efeitos das ameaças. O objetivo é obter sucesso com um plano adequado à realidade da empresa. Espero que este artigo contribua com a sua missão de tecer novos rumos e desejo que a prosperidade seja cada vez mais a marca da sua liderança!

Nos últimos anos, o cânhamo (Cannabis Sativa, variedades legais têm um baixo teor de THC de menos de 0,3%) e, em particular, sua fibra parece gradualmente recuperar uma segunda juventude. Na verdade, essa fibra natural histórica caiu em desuso na segunda parte do século XX, devido ao progresso e ao crescimento das fibras sintéticas. Este renascimento ainda é muito embrionário e prerrogativa de alguns países pioneiros, exceto a China, que nunca abandonou realmente o cultivo desta planta para aplicações têxteis. A título indicativo, as áreas de cânhamo industrial cultivadas na Europa atingiram cerca de 40.000 hectares em 2020, representando a França cerca de 45% deste total. No entanto, as superfícies de cânhamo dedicadas a aplicações têxteis não ultrapassaram 10%. Na Europa, o cânhamo é cultivado principalmente por suas sementes (rico em ômega 3 e 6, proteínas e vitamina E) e para o setor de agro-materiais que usa fibra e cânhamo para construção, materiais compostos, cobertura morta e papelaria. Muitos projetos também têm como objetivo as oportunidades oferecidas pelo CBD (canabidiol) e a colheita da flor do cânhamo. As aplicações estritamente têxteis, como roupas e roupa de casa, não constituem, portanto, a espinha dorsal do desenvolvimento das árvores de neo-cânhamo, especialmente na Europa, à exeção das aplicações em geotêxteis, como maior uso. Crescimento futuro da produção Ao mesmo tempo, a lista de países que autorizam oficialmente o cultivo de cânhamo continua a crescer, embora muitos deles continuem a regulamentar estritamente esse cultivo por meio de programas de testes-piloto. No entanto, é razoavelmente possível antecipar um aumento nos países que legalizarão o cultivo de cânhamo industrial nos próximos anos, assim que as ambigüidades associadas à cannabis sejam resolvidas. Iniciativas em larga escala Hoje, as empresas líderes estão aproveitando o fenômeno e se comunicando em torno do cânhamo têxtil, enfatizando em particular as características virtuosas desta fibra. A Levi's - por exemplo - lançou uma campanha em 2021 focada no cânhamo com o seguinte slogan: Economize água, use cânhamo! O principal argumento da marca compara a grande quantidade de água necessária para a produção do algodão com a do cânhamo, que exige menos. A empresa Patagonia, pioneira na promoção do cânhamo, lançou recentemente uma nova iniciativa denominada "Bring Hemp Home" com o objetivo de construir uma cadeia de valor para o processamento da fibra de cânhamo nos Estados Unidos. O grupo Kingdom na China, líder mundial na produção de fio de linho, investiu consideravelmente na produção e capacidade de processamento de cânhamo têxtil comercializado sob a marca “Black Land HEMP”. No entanto, podemos razoavelmente antecipar um aumento na importância do cânhamo têxtil em vez de outras fibras? Para responder a esta questão complexa, três aspectos importantes devem ser levados em consideração: cultura, processamento e mercado. 1. Produzindo cânhamo: um verdadeiro trabalho Mesmo que o feedback da experiência ainda seja modesto, é comumente aceito que o cultivo de cânhamo oferece vantagens agronômicas reais: • De família única na agricultura, o cânhamo interrompe o ciclo das doenças. • Como todas as safras de primavera, permite uma pausa nas rotações com base nas safras de outono e limita a reprodução de ervas daninhas. • Tanto no orgânico quanto no convencional, o cânhamo não é muito sensível a doenças e insetos. Não necessita de fungicidas ou inseticidas. Se a emergência ocorrer nas condições certas, é uma planta sufocante que não requer capina (nem química nem mecânica). • O besouro é o principal parasita do cânhamo, é uma planta sem clorofila que extrai seus nutrientes das plantas hospedeiras que coloniza • O cânhamo pode facilmente encontrar seu lugar em uma rotação e é um excelente cabeçote de rotação na agricultura orgânica. Sua raiz principal deixa uma excelente estrutura de solo para a próxima safra. • Tolerante à seca, não requer irrigação e não é suscetível de acamamento. • O cânhamo permite reduzir o IFT (indicador de frequência de tratamentos fitossanitários) da fazenda e assim promover o desenvolvimento e ação da microflora e microfauna do solo, garantindo seu bom funcionamento. Sem minimizar as oportunidades reais oferecidas pela planta, é difícil improvisar um agricultor de cânhamo. O primeiro desafio para o agricultor é certamente compreender totalmente o(s) mercado(s)-alvo para (i) selecionar as variedades certas e (ii) otimizar o manejo da cultura. O levantamento e a amarração também continuam sendo os maiores desafios para os operadores que devem - dependendo das aplicações visadas - adaptar suas técnicas e equipamentos. Em outras palavras, o cultivo do cânhamo requer tempo, pesquisa e investimento. 2. Produzindo fibra de cânhamo: diferentes rotas tecnológicas Mesmo que o cânhamo têxtil não tenha realmente ultrapassado um limiar de visibilidade em nível global como outras fibras naturais, já é possível antecipar 4 grandes rotas tecnológicas para a sua transformação em produtos têxteis. Via 1 : têxteis de fibra longa, produtos têxteis 100% de cânhamo • Variedades de cânhamo de fibra precoce • Arranque e maceração paralelos realizados de maneira ideal no campo (regiões úmidas / ensolaradas no verão) • Um tipo de embreagem de linho • Uma fiação especializada em fibras liberianas Via 2 : cânhamo algodão • Técnica de refino de fibra chamada "cotonização" desenvolvida na década de 1970 para o linho e agora adequada para o cânhamo • Uma primeira transformação de desfibramento para separar a fibra da semente de cânhamo e outros subprodutos • Uma segunda transformação conhecida como cardagem, que permite segmentar a fibra de acordo com seu comprimento e aplicações específicas de destino (isolamento, não tecidos, têxteis) • Uma terceira transformação conhecida como algodão, que consiste em misturar as fibras curtas cardadas com outras fibras, como o algodão Via 3 : fibras de cânhamo semilongas, fibras cardadas • Nova tecnologia de processamento dedicada exclusivamente ao cânhamo e apoiada pela empresa HEMP ACT, na França • Ao contrário do processo dedicado às fibras longas, não há paralelização das hastes no campo; nenhum equipamento de colheita específico necessário • Desenvolvimento de máquinas de processamento específicas adaptadas exclusivamente ao cânhamo (linha desfibradora, penteadeira, etc.) Via 4: cânhamo celulósico • Tecnologia recente em desenvolvimento pela empresa RBX Créations, na França • Uso de palha inteira após a colheita das sementes • Extração de celulose por um processo inovador co-desenvolvido com o Instituto Denkendorf , na Alemanha • Regeneração da polpa de celulose das fibras de cânhamo (filamentos, fibras curtas) A escolha da cadeia de valor da transformação depende das aplicações direcionadas e certamente levará ao surgimento de players cada vez mais especializados com tecnologia de ponta. 3. O mercado está pronto? Os próximos anos ampliarão e acelerarão a profunda transformação das práticas da indústria têxtil em geral. “Produzir melhor” já se firma como o mantra da profissão e essa revolução começa com o perfil das matérias-primas beneficiadas. Certos grupos pioneiros (Zara, M&S, etc.) estabeleceram objetivos ambiciosos e prevêem o uso de uma grande maioria das chamadas fibras virtuosas a mais ou menos longo prazo. Hoje, estamos no tempo das pesquisas, dos programas de experimentação, da corrida pelas fibras certificadas, do ramp-up planejado da reciclagem; em suma, o que a Textile Exchange chama de “fibra preferida”. Novas fibras naturais como o cânhamo e também as extraídas de outras plantas (banana, abacaxi, cana-de-açúcar e etc.) têm seu lugar nessa busca por fibras mais responsáveis. Para se estabelecer como uma alternativa confiável em um mercado de fibra que atingirá 140 milhões de toneladas até 2030, das quais aproximadamente 35 milhões de toneladas de fibras naturais, com algodão ainda dominando mais de 80% atualmente, várias chaves críticas serão necessárias: · A disponibilidade e segurança dos volumes · Processamento com custo competitivo (transporte e embalagem de fibras) · Respeito pelas práticas de cultivo e processamento · Desenvolvimento das tecnologias de reciclagem das fibras e tecidos · Rastreabilidade do material · A estabilidade de um preço competitivo Estes são os desafios futuros para o cânhamo têxtil, se o objetivo é "virar a mesa do avesso" sob o risco de continuar a ser uma fibra virtuosa, mas ultraconfidencial.