Sobre o autor
Loyola Neto
CEO da Startup SalvAR
Foi logo nos primeiros meses de pandemia, ainda em meio ao caos e incerteza que atingiu o mundo e impactou drasticamente o faturamento da Loygus, negócio em que atuo há 26 anos no ramo de confecções, que mais uma vez vi um chamado no empreendedorismo para a reinvenção. Suspendemos 60% da nossa produção de vestuário, que estava vinculada ao mercado de entretenimento e era nosso carro-chefe, e fomos a primeira empresa baiana a produzir máscaras de tecido, primeiro com dupla proteção e, depois, com tecnologia antiviral. Mas foi enquanto acompanhava as notícias dos riscos de transmissão da Covid-19 que me veio a ideia de um equipamento de proteção coletiva que ajudasse a conter o novo coronavírus.
Descobri o perigo de contaminação de agentes infecciosos em ambientes fechados e climatizados, analisei diversos estudos que apontavam o risco nesses espaços por não haver uma renovação do ar e por manter partículas contagiosas suspensas durante horas, os chamados aerossóis. Foi então que pensei em criar uma espécie de máscara para os aparelhos de ar-condicionado que impedissem a livre circulação dos vírus. A ideia foi desenvolvida no Senai Cimatec e contou com o financiamento da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que investiu R$ 400 mil no desenvolvimento do protótipo, em um processo que durou cerca de 12 meses.
A barreira filtrante biocida e anticovid é composta por um tecido, incorporado por íons de prata, capaz de deter diversos microorganismos, controlando a disseminação de partículas contaminadas através do sistema de climatização. Sua eficácia foi comprovada por laboratórios da Unicamp, Universidade Federal de Uberlândia e Controlbio que apontaram a taxa de 99,9% na retenção e eliminação da carga viral, incluindo o novo coronavírus, além da redução em até 72% de fungos e bactérias. A tecnologia está sendo patenteada como inovação e, para dar seguimento a ideia, criamos a startup SalvAr, como spin-off da Loygus, cujo propósito é salvar vidas em ambientes fechados e climatizados.
Aprimoramos o protótipo do filtro na startup e ajustamos o modelo para se tornar adaptável a diversos modelos de ar-condicionado, inclusive para transportes coletivos. Em seguida, demos início à produção local em abril de 2021, doando cerca de 1.000 filtros para ONGs como Obras Sociais Irmã Dulce, GAAC - Grupo de Apoio à Criança com Câncer, Parque Social e Lar Vida. Em oito meses de atuação, o filtro SalvAR está presente em 12 estados e conta com cerca de 20 mil filtros instalados pelo Brasil, incluindo a sede do Sebrae Nacional, em Brasília. O equipamento também acompanha o selo Ponto Azul, que identifica e assegura a presença do filtro original nos locais, contribuindo para deixar o público mais confiante em frequentar o espaço.
Nesse quase um ano de atuação da SalvAr alcançamos conquistas significativas como a classificação como finalista do VII Prêmio de Inovação Fleury, em que concorremos com iniciativas de todo o Brasil que criaram soluções inovadoras voltadas para as adversidades decorrentes da pandemia. Também vencemos a seletiva do Programa Acelera+ Bahia, onde fomos uma das três startups escolhidas para representar a Bahia no evento nacional que será realizado pelo Sebrae em 2022, além de participarmos da 18ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia à convite da Embrapii.
Em um mundo que ainda se recupera e sofre com as consequências de uma pandemia viral, a SalvAR tem se destacado por ser uma solução que ajuda a prevenir não só a Covid-19, como diversas doenças respiratórias que são agravadas pelo uso constante, sem filtragem e higienização adequadas dos aparelhos de ar condicionado, como: gripes, resfriados, alergias, pneumonites e problemas como a “Síndrome do Edifício Doente” (SED), definida pela Organização Mundial da Saúde como um conjunto de doenças causadas ou estimuladas pela poluição do ar em espaços fechados, cujos sintomas podem ser: dor de cabeça, náuseas, ardor nos olhos ou coriza. Essa síndrome, só nos EUA movimenta 25 bilhões de dólares por ano em gastos gerados por doenças respiratórias em edifícios comerciais. Ainda segundo a OMS, pelo menos 30% das edificações em todo o mundo sofrem de SED. No Brasil, este número pode chegar a 50%.
Como empreendedor no segmento da indústria têxtil, onde precisei me readaptar em diversos momentos, entendi mais uma vez que precisava inovar pensando em atender um objetivo comum e global para preservação da saúde e desenvolvimento sustentável. Em um momento de crise, criamos um equipamento de proteção coletiva que ajuda não só a salvar vidas, mas também negócios, especialmente aqueles que reúnem grande número de pessoas, como escolas, espaços comerciais e culturais, clínicas, restaurantes e academias. Oferecemos mais segurança para as empresas e o público consumidor desses locais.
Desenvolvemos um produto genuinamente baiano como solução para um problema mundial e isso é motivo de orgulho para nós. Como startup, sabemos que nossa missão é contínua e prosseguimos trabalhando em inovações e estudando como agregar novas tecnologias que avancem cada vez mais no propósito de manter ambientes climatizados mais seguros e saudáveis. Nessa trajetória, o aprendizado que temos a compartilhar é manter a resiliência em momentos de crise e ter a inovação como uma busca contínua para seu negócio. Entendendo que inovar, não necessariamente precisa ser criar algo disruptivo, mas estar atento a pequenas mudanças que possam ser implementadas para minimizar impactos ou resolver novos problemas.
Mais informações sobre a startup e o filtro SalvAR podem ser encontradas no site:
Sobre o autor
Loyola Neto
CEO da Startup SalvAR