Sobre a autora:
Isabella Luglio
Área Educacional
O Índice de Transparência da Moda é um projeto pioneiro no setor da moda que indica em que medida grandes marcas da indústria estão divulgando publicamente informações sobre suas políticas, compromissos, práticas e impactos socioambientais em toda a cadeia de valor em prol de uma maior prestação de contas.
O projeto foi desenvolvido pelo
Fashion Revolution, maior movimento ativista da moda, presente em cerca de 90 países e que trabalha por uma moda que conserve e regenere o meio ambiente e que valorize as pessoas acima do crescimento e do lucro. Os resultados do Índice auxiliam a direcionar nossos esforços contínuos como organização da sociedade civil em aumentar a consciência pública e a educação sobre os desafios sociais e ambientais enfrentados pela indústria da moda, usando esta pesquisa para apoiar o ativismo da sociedade. Queremos inspirar mais pessoas a pesquisarem sobre as marcas que consomem, incentivando uma mudança de comportamento que já vem sendo notada.
O Índice tem o objetivo de ser uma ferramenta construtiva de promoção de melhoria para toda a indústria, trazendo luz às responsabilidades de todos ao longo da cadeia de fornecimento, demonstrando a necessidade de mais incentivos e políticas públicas para transparência e sustentabilidade na indústria da moda e auxiliando ONGs, sindicatos e grupos da sociedade civil que atuam diretamente com produtores e trabalhadores na proteção dos direitos humanos e do meio ambiente. Acreditamos que a transparência é fundamental para alcançar as mudanças para as quais o Fashion Revolution vem trabalhando todos esses anos – seja na política, na cultura ou na indústria.
Para as marcas, ser transparente pode ser uma vantagem para a estratégia da empresa. A transparência é uma ferramenta fundamental na construção da imagem da marca e na manutenção da confiança dos consumidores, parceiros, investidores e fornecedores. Além disso, ajuda a criar um ambiente interno de satisfação, o qual auxilia na contratação e retenção de talentos. A transparência também permite o monitoramento público e a ação coletiva de ONGs e sindicatos, o que pode ser uma maneira mais rápida de identificar e resolver problemas. Ser transparente ainda incentiva melhores práticas de compra e facilita melhor acesso a dados, o que ajuda a indústria como um todo a avançar.
É importante destacar que a transparência não deve ser confundida com sustentabilidade, mas sem transparência será impossível alcançar uma indústria de moda mais sustentável, responsável e justa. Entendemos a transparência como um primeiro passo, e não como o objetivo final.
O projeto, que existe globalmente desde 2016, veio para o Brasil em 2018 para aprofundar as discussões locais sobre a importância da transparência na construção de uma indústria da moda com melhores práticas. O Brasil foi o primeiro país a receber uma edição local do Índice de Transparência da Moda e esta escolha se deu devido à relevância que o país possui no cenário de moda global, uma vez que se configura como um dos principais polos têxteis e de confecção do planeta e como a maior cadeia têxtil completa do Ocidente.
A primeira edição do projeto, em 2018, analisou as 20 maiores marcas e varejistas que operam no mercado brasileiro e o escopo de empresas analisadas aumentou em 10 a cada ano, chegando em 60 empresas pesquisadas na edição de 2022. Entre as pesquisadas estão as empresas de moda que mais faturam no mercado nacional e que são reconhecidas como top of mind pelos consumidores.
Desde então, o Índice de Transparência da Moda Brasil vem gerando mudanças significativas ao ajudar a normalizar o conceito de transparência dentro da indústria de moda nacional, tornando a divulgação pública de questões sociais e ambientais uma prática mais comum e frequente entre as empresas. Uma evidência disso é que podemos observar um progressivo aumento na pontuação média das empresas analisadas desde a primeira edição. A pontuação das 20 empresas analisadas em 2018 foi de 17%; já em 2022, se analisarmos o recorte dessas mesmas 20 empresas, a pontuação média foi de 31%, um aumento de 14 pontos percentuais. Isso demonstra que, uma vez incluídas no Índice, as marcas tendem a apresentar uma crescente evolução ano a ano.
Outra importante mudança observada é que, devido à forte pressão por maior transparência, mais marcas estão divulgando suas listas de fornecedores. Quando iniciamos a pesquisa no Brasil em 2018, pouquíssimas marcas publicavam listas de fornecedores diretos (como aqueles de corte, costura e acabamento). Eram apenas 25% das analisadas, ou seja, cinco entre 20. Em 2022, este número cresceu para 33%, totalizando 20 marcas entre as 60 avaliadas. Além disso, se observarmos apenas esse grupo das 20 marcas presentes na pesquisa de 2018, podemos notar que sua média na seção de rastreabilidade do Índice cresceu progressiva - mente ao longo dos anos. Em 2022, a média do grupo nesta seção foi de 34% contra a média de 18% obtida pelo total das 60 marcas analisadas. Isso demonstra uma gradual e importante mudança de comportamento na indústria.
Apesar dos progressos observados, também identificamos diversos desafios. Considerando as inúmeras problemáticas socioambientais relacionadas com a indústria da moda, é preocupante que 36 marcas das 60 analisadas pontuem na faixa de 0 a 10%, ou seja, não divulguem nenhuma ou pouquíssima informação sobre seus impactos.
Além disso, podemos notar que a rastreabilidade e divulgação de listas de fornecedores do estágio inicial da matéria-prima (fazendas, plantações, matadouros, etc.) ainda é um grande desafio a ser superado. Apenas 8% das marcas divulgam essa informação. Quanto mais nos distanciamos das operações das marcas, mais raras ficam as informações divulgadas e é onde a maior parte dos riscos se encontra.
Outro ponto de desafio é em relação à temática da mudança do clima e da conservação da biodiversidade. Apesar da urgência da crise climática, somente 13% das marcas divulgam uma meta de descarbonização que seja veri - ficada pela Science-Based Targets Initiative e que abranja toda a sua cadeia de fornecimento, e nenhuma das marcas divulga compromissos de desmatamento zero.
Acreditamos na transparência como ferramenta de mudança e como primeiro passo rumo a melhorias reais no setor. Por isso, incentivamos que as empresas utilizem o Índice como instrumento orientador da evolução de suas práticas. Incentivamos as marcas a serem completamente transparentes em todos os tópicos cobertos pelo Índice de Transparência da Moda, mantendo uma atualização contínua em resposta aos riscos envolvidos em seus negócios.
Clique aqui para saber mais sobre a última edição do projeto.
Sobre a autora:
Isabella Luglio
Área Educacional